terça-feira, 6 de julho de 2010

Fogueira de orgulho e desprezo


Ao cair da noite
a escuridão invadiu-lhe a alma
o sangue que percorria o seu corpo
fervilhava numa taquicardia interminável

As lágrimas que tinham secado por uns dias
voltaram a escorrer pelos seus olhos
como se de uma fonte maldita se tratasse

Imagens, palavras,
desfilavam pela sua mente
a velocidade da luz
mas por muito
que que as tentasse parar
foi impossível
não passavam de recordações
que em noites de amargura
lhe atormentavam o corpo
com sensações de que o ar
que tinha a sua volta
não era suficiente para respirar
que o coração estava (está) tão esmagado
que não voltará ao seu molde inicial

Dor, amargura, tristeza
nessa noite a vida resumia-se a isso
apanhar pedaços de uma vida
estilhaçada por uma única e só pessoa
mas até que ponto
ela iria aguentar?

Ontem o mundo parecia acabar
mas hoje continua viva
mas oca por dentro
como um livro em que arrancaram
todas as folhas
uma a uma
lentamente
e as queimaram
numa fogueira de orgulho e desprezo
em que nem as cinzas
de um amor ficaram

2 comentários:

Pedro Branco disse...

Como um rio, corrente de dentro. Gostei!

maltes disse...

“Um jovem estava no centro da cidade, proclamando ter o coração mais belo da região. Uma multidão o cercou e todos admiraram o seu coração. Não havia marcas ou qualquer outro defeito. Todos concordaram que aquele era o coração mais belo que já tinham visto.
De repente, um velho apareceu diante da multidão e disse:
- Por que o coração do jovem não é tão bonito quanto o meu?
A multidão e o jovem olharam para o coração do velho, que estava batendo com vigor, mas tinha muitas cicatrizes. Havia locais em que pedaços tinham sido removidos e outros tinham sido colocados no lugar, mas não encaixavam direito, causando muitas irregularidades. Em alguns pontos do coração, faltavam pedaços.
O jovem olhou para o coração do velho e disse:
- O senhor deve estar a brincar...compare nossos corações. O meu está perfeito, intacto e o seu é uma mistura de cicatrizes e buracos!
- Sim, - disse o velho olhando - o seu coração parece perfeito, mas eu não trocaria o meu pelo seu. Veja, cada cicatriz representa uma pessoa para a qual eu dei o meu amor. Tirei um pedaço do meu coração e dei para cada uma dessas pessoas. Muitas delas deram-me também um pedaço do próprio coração para que eu colocasse no meu, mas, como os pedaços não eram exactamente iguais, há irregularidades. Mas eu as estimo, porque me fazem lembrar do amor que compartilhamos. Algumas vezes, dei pedaços do meu coração a quem não me retribuiu. Por isso, há buracos. Eles doem. Ficam abertos, lembrando-me do amor que senti por essas pessoas... um dia espero que elas retribuam, preenchendo esse vazio. E aí, jovem? Agora você entende o que é a verdadeira beleza?
Calado, o jovem aproximou-se do velho, tirou um pedaço de seu perfeito e jovem coração e ofereceu ao velho, que retribuiu o gesto. O jovem olhou para o seu coração, não mais perfeito como antes, mas mais belo que nunca.”
Felizmente não tenho um coração perfeito. Alguém me disse há algum tempo atrás que, para haver amor tem que se amar e ser retribuído, caso contrário são só aproximações. Apesar de todos os conceitos relativos sobre o amor e apesar de toda a dor que as cicatrizes possam provocar, seja por amor, seja por aproximação, todas elas significam que se amou. E acreditar é o que nos faz levantar todos os dias com um sorriso nos lábios!...

Bjos