Ela deambulava pelas mesmas ruasde uma cidade outra hora perdidauma cidade em que as luzesse abriram a sua passagemem que o seu sorriso se rasgouem cada esquina, em cada recanto...
Talvez se sentisse livretalvez se sentisse solta das memórias de que tanto se lamentava...
Caminhava lado a ladode uma sombra mágicasem medopronta a agarrar o que tanto procuravao que tanto acreditava...
Hoje as luzes voltam a se acender a sua passageme ela simplesmente brilhade tanto amar...
Ela fechou os olhosfechou a alma e o coraçãopensava sentir pazmas apenas ficaram as mágoasnão tem forças para mudarporque não acredita ser capaz de o fazersentiu-se em temposlivre como o ventohoje vive presa entre as paredes de um tormentoque aparece sem avisarnão sabe o que sernada do que vê é realtudo uma breve ilusãohoje esconde-se à sombra das palavrasporque a luz que um dia tevese perdeu assimnuma noite de silênciose lágrimas sem fimficam palavras ocassem sentidode uma vida sem significado...
Deitou-se numa cama friaAdormeceu sem ter tempo de aquecersem pensar na vidaao contrário de todas as outras noites...Pela manhã acordoucomo se uma folha da vida tivesse sido escrita na noite anteriorserá que sente novamente?Deslizou pelas curvas da casasentou-se no sofáacendeu o primeiro cigarro do diae perdeu-se nos seus pensamentos...Procurava pistas nas palavras delenum passado ocultoviu que era humanoe que amou de formas diferentes...Sente-se confusaperdida entre um mar de palavras passadase o mistério das palavras do futuro...
Um furacão de emoçõesque lhe percorre o corposem forma de sairaté que tudo explode em nuvem de lágrimas ou sorrisosvive assim sem o contrariarporque simplesmente sente e vive a vida...
Um conjunto de poeirasde sonhos perdidosde imagens esquecidasatormentam-lhe o sonoem retalhos de memoriasque disparam nos seus pensamentossem os conseguir controlar...
Levanta-se na noitecom um furacão de ideiasque se encarnam em palavrasprocurando o sentidoao que a fez despertardesse sono interminavele liberta o que a consomenum furacão de linhas irregulares...
A maré baixa levou-lhe as mágoas a maré alta devolveu-lhasna areia macia ficaram as marcas em pegadas apagadas pelo ventoque lhe acariciava o cabelonuma dança interminávelde carícias e sensações...
Em segredos escondia-secomo se a verdade fosse inútilguardou os seus sonhos em linhas que percorrem o seu corposem sentido aparente mas com validade eternaem cada centímetro de pele...
Afastava-se do espelhopara não observar as sombras que habitavam no seu corpoescondia-se da luz para não voltar a ter corvivia assim tendo como única prova de que estava vivao seu coração que batia...
Recebia a solidão a cada olhar desconhecidoem cada passo dentro de casasentia que o frio não era o mesmode outros invernos passadosesse vinha de dentro do seu coraçãoe espalhava-se no olharnuma triste noite longe do mar...
Por entre ruas e mais ruascaminhava de cabeça baixa
lembrando-se das outras vidas que desconhecia...De sorriso esquecidoolhos fechados à luzmãos amarradas às memóriassuspirando...
Será esta a vida das vidas?das vidas perdidasou das vidas que se perdem para se encontrarem...
Nuvens de poeirasformaram-se à sua passagemtudo o que ficou se perdeutudo o que viu não existiu...
Soltou-se por essas ruasnuma noite que pareceu eternaapenas o vazio sem limitese sem compreensão...
Hoje acordou finalmentee vê que tudo o que sentiupor essas ruas obscurasnão passa de memórias...
Hoje lembro-me de todos os sonhos,
De partes das minhas memorias...
De amigos que perdi.
De amigos que ganhei...
De sorrisos que partilhei...
De amores desencontrados,
De magoas afogadas em lagrimas...
De sorrisos brilhantes,
De sorrisos apagados...
Hoje lembrei-me de mim...