terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Contra (Tempo)

Tempo
em que as flores
lhe nasceram
da boca

Brilharam os dias
secaram as noites
perdidas além mar
num ir
sem querer voltar

Efémera verdade
código perdido
nas reticências
de uma sedenta
e lenta vida

Silêncio de fundo
eco
de ponto final

Nem todo o princípio
teve um fim
mas o silêncio
esse sim

Mulher de uma noite
Poeta de um só dia
ao abrigo das palavras
de hoje e de sempre

Suspiro arrependido
luta interna
verdade estéril
entranhada
nas raízes
de um Contra
(tempo)

.
Os meus dias
afogados
nas tuas noites
.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Abrigo (entre dedos)

Esculpidos no gelo
olhos de cristais
soltaram-se no silêncio
de um porquê perdido

Rodou a lua
num amanhecer lento
penumbra de saudade
face quente
encanto de um abrigo
entre dedos

Beijou o tempo
no compasso
de um doce relento
sonho entre folhas
de uma madrugada rugosa
misturada à poeira
que o pensamento deixou

Sentiu verdade
nas mentiras
que foi colhendo
enganou o passado
cobrindo de ouro
o presente

domingo, 9 de outubro de 2011

Entre linhas

Entre linhas
de passos descalços
foi sentindo
o húmido orvalho
roubado a noite

na sombra deixou
os mesmos suspiros
de sempre
nas rugas que não tinha
os segredos de ontem

finalmente livre
vive novamente
de amor pelas palavras
que nunca lhe secaram

raízes nos seus pés
essência de um mundo
poeta que nunca foi
perdida nas palavras
que nunca teve

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Adeus doentio


Trazia na boca um sabor
de cigarro rejeitado pela saliva
dias e noites
foi somando
em números ímpares
tempo dissolvido
num silêncio caustico
arame na boca
desprezo no corpo
sombra de sempre
num olhar perdido
mentira entranhada na pele
prazo diminuído
numa lavagem de palavras
sem sentido

Seja este um último adeus
ao teu erro
um adeus doentio
que se entranha
nas palavras gastas
sussurradas, esmigalhadas
num último
copo bebido

domingo, 4 de setembro de 2011

Vermelho vestida


Tempo finito
vermelho vivo
cor de chama
em fogo

Natureza estática
verde envolto
cristalino vento
entre duas cordas

Menina eras
em tempos rotos
mulher te fizeste
em raro tempo

Saudade efémera
alimento foste
fado de poeta
poema gemido
de uma guitarra usada

Seguiu a vida
a mulher
de vermelho vestida
seguiu e segue

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Preto luar


Pretos eram os seus olhos
cor de carvão queimado
em noite de lua vazia

Pretos eram os seus cabelos
que voaram numa dança irregular
enquanto o pó das estrelas
pairou no ar

Pretos eram os seus sonhos
com reflexos de branco real
tatuados num dos seus ombros

Preta era a sua roupa
camuflagem de vingança esquecida
espera arrefecida
na cápsula do tempo

Preto foi o luar
que lhe ficou no rosto
numa noite bela
por acabar

Preto luar
de olhos apagados
pelo ar

terça-feira, 21 de junho de 2011

Eco de sol


Do eco fez-se sol
do vazio renasceu
a luz da áurea perdida
nos tempos

Percorreu a areia
temida de fria
foi deixando marcas
que a maré levou
aos soluços

Deixou de pensar
apenas sentiu
o pôr-do-sol
com magia de luar

O corpo
separou-se-lhe da alma
navegou, navegou
ainda navega
e reluz na espiral
das ondas
que a despiram
de dúvidas e desgosto

Fechou os olhos
e lá ficou
ainda hoje se vê
no vermelho do céu
trocando carícias
com o rei sol

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Na pele da calçada


Estranhou
enquanto o cheiro a medo
se entranhou nas ranhuras
da calçada
que percorreu
descalça

Estranha menina
que se escondeu
na pele
de uma mulher
perdida

Levou na alma
o que o mundo esqueceu
regou o corpo
numa chuva de gotas
dos dedos do céu

No coração guardou
restos de tempestades
embrulhados em páginas
de mil e uma lágrimas

Na alma afogou
o que as palavras
esconderam

No corpo gravou
cada dia e cada hora
nas rugas do tempo
em folhas de rastos
de leves poeiras
de saudade

Viveu uma vida
em que cada minuto
se desligou
como uma lâmpada
fundida

Esperou pelo ontem
que lhe salgou a boca
esperou
ainda espera
e desespera
entre cada lágrima
que solta
pelo corpo

sábado, 4 de junho de 2011

Girassol de sol



Gira girassol
brilho de sol
amarelo estridente
poeira de estrela cadente

Sonho de mulher
fogo que arde
nas planícies
sedentas de amor

Asas de tempo esgotado
mágoas verdes
de labirinto
sem fim

Gira girassol
lembra ao mundo
que o incerto
segue o seu rumo
e o certo
apenas o observa

Gira girassol
de sol
de amor


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Rugas de vida



Um silêncio que torturava
as paredes de uma pele
escamosa e enrugada
os limites de um tempo
que escorriam
das rugas da vida

uma natureza selvagem
de olhos de musgo
corpo de casca de árvore
talhado pelas gotas do orvalho
de uma manhã submersa
no desconhecido

sentia-se
encurralada num tempo
que não era seu
em que as palavras se cuspiam
como um fruto de sabor
amargo e verde

Página a página
desfolhou
uma boca sem linhas
onde as palavras
mergulharam
num mar selvagem
de reticências
num ponto sem nó
numa letra sem dó

Soltou-se entre as linhas
de dois tempos
guardou as lágrimas de ontem
e desse sal
fez o tempero
de um novo fim

domingo, 27 de março de 2011

Labirinto de segredos


Deu as chamas
em troca
do calor das estrelas
seguiu caminho
num labirinto
em que as paredes opacas
gemeram num silêncio
mumificador

Pensou na vida
no vazio
em que o seu corpo
se tinha fechado
num compasso passado
feito das barreiras
dos seus próprios limites

Um livro
em que as páginas
desesperaram
no branco
imaculado do nada

Segredos gravados
a ferro e fogo
segredos
sem sede
segredos
de silêncio

domingo, 20 de março de 2011

Eternidade incerta

Texto Jc Patrão/ Cidália Oliveira


Hoje acordei cedo
na ânsia de tocar o futuro
Ver flores negras à janela
e sentir apenas almas
de placebo
que respiraram a sua cor…
Cantam a um anjo
caído
que sem desolação
continuará a voar…
E sonhará que
será sempre possível
viajar em segurança para lá
da derradeira floresta
da vida
desde que não perturbemos
a sua chave para a eternidade…

Eternidade incerta
nas linhas de um corpo
irregulares ao tato
das mãos de seda

Caixa de Pandora
do sentir de um poeta
preso no corpo
de uma musa

Ardem os olhos
ardem palavras
no incerto do futuro
em silêncio

terça-feira, 15 de março de 2011

Solidão de prata


Afogaram-se
os cabelos da musa
num mar de olhar perdido
na prata de um amor
sem tempo

Brilharam purpuras
aromatizadas e cristalizadas
em pó de sonhos
nas retinas de uns olhos
cheios de sabores

Calou-se o tempo
no conforto do silêncio
entre cada fragmento
de um beijo

Rasgaram-se as nuvens
envolvendo o caís
numa solidão de prata

Sentir inocente
inocência sentida
no relevo
da boca do tempo
o teu tempo

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ponto de encontro


Entre dois olhares
surgiu um ponto
entre dois pontos
um jogo de letras
gravadas nas badaladas
de palavras escritas
a luz da lua
de uma meia noite corrida
a vento ciumento

No cume do seu sentir
em que tudo aconteceu
e nada se esqueceu
o medo de ser
cercou-lhe a boca
vidrou-lhe os olhos
confundiu-lhe o gosto
em ligeiro desgosto

Do vazio fez o seu escudo
da incerteza
a calçada
por onde caminhou
prisioneira
do seu próprio corpo

As horas foram-se
somando e gravando
em fendas incertas
na corda do tempo
as estações do ano
germinado
até se apagarem
no inverno destemido

Como uma leve flor
de folhas delicadas
talhadas pelo gelo
abriu-se ao mundo
sem saber
misterioso enigma
aos olhos de quem
a observou
ao longe
bem longe

Cor nas pétalas
no sentir eterno
de um amor
perdido

Ponto de encontro
sem ponto
de um novo amor

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sopro de luz


Na luz de uma noite
em restos de pó de estrela
deu o seu último sopro
fechou os olhos
calmamente com tempo

Com palavras soltas ao vento
quebrou rochedos
endurecidos pelas lágrimas
sal do mundo
nas ondas puras
de um mar sem ar

Fez do sabor
de uma boca perdida
o seu porto de abrigo
o seu farol
nas ondas dos sonhos
gravou a imagem
de musa perdida

Tentou descrever
tudo o que na alma sentiu
mas ficaria sempre por dizer
tudo o que no corpo guardou
os sabores que nela navegavam
numa eterna
saudade de ter

Aconchegou-se num cobertor
feito de recordações
de lápis na mão
foi escrevendo o que a boca
não permitiu dizer

Assim se fez poeta por uma noite
no abrigo das palavras
de hoje e de sempre

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fragmentos de tempo


Foto:Carlos Cascalheira "O maltês"

Com um pé na terra
uma mão na lua
os olhos no sol
o cabelo nas estrelas
caminhava
entre a noite e o dia
dos segmentos do tempo

Natureza selvagem
fonte de enigmas
sal do mar
força de ondas
esmagadas nos rochedos

Marcas na areia
iluminadas pelo eclipse
de ontem
denunciaram um rasto
à muito perdido
de um corpo errante

Linhas de sombras
nas curvas
dos limites do sol
luz do dia
fragmentos de tempo