quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Pinta-me de amor

A saudade existe

como uma ruga na pele

aparece com o tempo

confunde-se com o saber

questiona a maturidade


A saudade de um toque 

de um beijo tímido 

de um abraço quente

de um olhar despido


A saudade de amar

sem pressa, nem hora

em que o tempo 

não nos foge das mãos 


Saudade do brilho 

que pinta a pele

que afoga a boca

e nos vicia


A saudade do que vivo

[intensamente]

que se impregna no relevo

do meu corpo


Seja o que for 

mas que me pinte

de amor


Cidália Oliveira 







sexta-feira, 17 de julho de 2020

Tanto minha como tua

Por vezes a noite
Absorve-me
Ou talvez seja eu
Que me dissolva nela
Interminável pareces ser
Somos tão diferentes
E tão iguais!
Em ti brilham mil estrelas
Em mim brilhavam sonhos
És perfeita
Com as tuas imperfeições
És admirada por todos
És única tal como eu
Mas não tenho luz
Mas tenho fé
Quando me sinto
Perdida na maldade
Que me deixaram
Olho a minha lua
Tal como tu tenho uma
E nela me regenero
A caminhada será longa
Mas vou aguentar!

Cidália Oliveira



domingo, 5 de julho de 2020

Noite de [cheia] lua

Passa-se o mês
E voltas

Contigo vêm as emoções
Que se escondem
No labirinto do meu corpo
Na tua luz me transformo
E escrevo
Por seres tu
Quem me faz viver

Longe vai o tempo
Em que os sonhos me levavas
Hoje a realidade é outra
O amor que me sabia a mel
É veneno com sabor a fel

Dizem que o ódio caminha
Lado a lado ao amor
Quando despertado
Cria raízes tão sólidas
Que nem o amor
O pode salvar

Não temas por mim
Não me perdi!
A dor transforma
A dor enjoa
A dor nunca será
Amor

Cidália Oliveira


sábado, 27 de junho de 2020

Chuva de verão

Somos passos lentos
Numa chuva de verão
Que se demora
Somos palavras de amor
Esquecidas, temidas
Somos dor

Somos o espelho
Do que perdemos
A lágrima contida
A raiva sentida

Sou um coração
Que te nega
Um fio de sonhos
Queimado, desfiado
Pelos teus dedos

Sou a miragem
Que te atormenta
Quando finges dormir
Sou os vestígios
Do que fui
Na tua boca

Sou a mulher
Que não [te] perdoa

Sou a humilhação
Sou a desilusão
Sou o despeito
Sou a tormenta

Serei flor
A renascer
Num solo
De pedra!

#8

Cidalia Oliveira






quarta-feira, 15 de abril de 2020

Estilhaços



A noite vai longa
mergulhada numa saudade
que me queima
que me abafa
que me estilhaça 

No ter criou-se
a maior mentira
no perder gravou-se
a única verdade

Descartáveis são os dias
esburacadas as emoções 
o amor volátil 
o rancor versátil 

Quer o coração ficar
grita a mente
que jamais irá 
aos teus braços 
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#8

Cidália Oliveira 




Imagem: google

domingo, 29 de março de 2020

Sem rumo

Caminhar sem rumo
Quando a vida me tolhe
As horas são intermináveis
O dia e a noite inseparáveis

A dor me escolheu
O negro me acolheu
Num infinito buraco
Que me encolhe
Que me recolhe

O céu deixou de ser azul
De cinzento o pinto
De desamor me visto
Até onde o ar
Me permitir viver

Desamaro o nó
Que o amor
Me criou


Cidália Oliveira